“Fronteiro”
Desço do corpo em que descanso
Desço do céu que me oprime
Desço ao centro do distante
Desço ao fim que não termina
Chego aqui de tão errante
Acalmo a alma que definha
Tento olhar o horizonte
Sinto o mito que fascina
Aqueço o coração, que se anima
Esqueço as orações de minha tia
Penso nos amores que eu tinha
Vejo que de nada eu sabia
Sucumbo ao veneno que bebia
Não luto contra a dor que invejo
Sei que esse dia de facínora
Encontrará algo no que vejo
Caminho contra a luz do fim do dia
Anseio pelas sombras que não vejo
Altero muito mais o meu soneto
Que um dia surgiu de um lampejo
Atravesso o mar que me sufoca
Vejo na praia um novo dia
Que belo amanhece e delicia
Que alegra assim quando me olha
Me dispo de todos os meus medos
Não espero agarrar os meus anseios
Quero deitar meus desesperos
No seio que me dita a vida
Fez-se mar de toda a poesia
Fez curar as dores de um fronteiro
Perscrutou a alma de enfermeiro
Ressuscitou a vida do enfermo
Delicio-me ao fim de um tormento
Alimento as esperanças de outrora
Quero mais e mais o amor de agora
Que invade e inunda de fomento!
Para você
16/09/05 – 19:45
Hoje era para se escrever sobre o show dos Hermanos, a imagem da futura companhia ao meu lado e que tais.
Contudo, o sonho da noite passada me assomou a mente e fez mudar os rumos. Acabei por desaguar em outras ideias, ideias já reiteradas aqui nesse mesmo espaço, algumas vezes.
Primeiro o sonho, depois a idéia.
O SonhoAcho que eu sempre sonho como um filme do Godard (dos mais recentes), cheio de cortes, câmera na mão, imagens embassadas, ausência de cronologia entre os fatos. Ou, quem sabe, pode ser um filme de David Lynch. Pelo menos é assim que me lembro da maioria dos sonhos que tenho.
Estava eu no Maracanã, mas eu não faço idéia porque era o Maracanã, já que estava num estádio não muito grande e coberto, onde havia cadeiras no lugar do gramado, mas uma mensagem que me foi passada é que eu estava no Maracanã e pronto, aceite. Três bandas se apresentariam naquela noite, em dois palcos distintos, um perpendicular ao outro. A terceira banda da noite era o Blur.
De repente então eu estava na frente de um computador, lendo mensagens ou vendo sites. O Damon Albarn, vocalista do Blur, havia me mandado um e-mail, falando sobre a passagem da banda pelo Brasil. Eu tentava insistentemente ouvir o album "The Great Escape", mas não conseguia, o disco parecia pular, não tovaca as canções que eu queria. Me recordo também que eu acessei um link para uma página onde havia um vídeo do programa do Jô Soares, onde estavam sendo entrevistados os outros membros da banda. Contavam eles sobre a trilha sonora que tinham feito para um desenho animado!
Depois, eu já estava de volta ao Maracanã, lado a lado com o Damon, conversando. Lembro nitidamente que ele me disse que falava cinco línguas, italiano, francês, alemão, inglês e inglês. Quando disse que ele havia repetido o "inglês", ele retrucou, afirmado que falava inglês e o "british english", ou seja, o inglês da Grã-Bretanha. Eu achei graça daquilo e lembrei que também preferia os trejeitos linguínticos da Terra da Rainha, dando, inclusive, como exemplo, a pronúncia da palavra "beautiful" nos EUA e na Inglaterra. Disse para Damon que ficava chateado por ter estudado a língua numa escola que se baseia no método americano.
Mas o show demorava muito para começar. Então de repente eu já estava na porta do hotel onde a banda estava hospedada, uma rua calma e arborizada. Uma van esperava na rua enquanto alguns poucos jornalistas esperavam a saída da banda. Encontrei com duas repórteres e elas ficavam comentando a hilária entrevista que a banda havia dado no Programa do Jô de quinta-feira. De repente, dois integrantes da banda saíram do prédio e um deles com certeza era o Alex James, pois eu lembro de ter falado "Hello Alex!", e ele acenou pra mim, não muito empolgado. Depois saiu o Damon. E eu não lembro de mais nada.
XXX
A idéiaEu acordei 15 minutos antes do despertador. Levantei, fui ao banheiro, e acabei sendo guiado até a sala. Peguei o cd do blur (claro, o "The Great Escape"), e , com todos na casa ainda dormindo, eu ouvi a música...
"Country House"And so the the story beginsCity dweller, successful fellaThought to himself oops I've got a lot of moneyI'm caught in a rat race terminallyI'm a professional cynic but my heart's not in itI'm paying the price of living life at the limitCaught up in the centuries anxietyIt preys on him, he's getting thinHe lives in a house, a very big house in the countryWatching afternoon repeats and the food he eats in the countryHe takes all manner of pills and piles up analyst bills in the countryIt's like an animal farm lot's of rural charm in the countryHe's got morning glory, life's a different storyEverything going jackanory, in touch with his own mortalityHe's reading balzac, knocking back prozacIt's a helping hand that makes you feel wonderfully blandOh it's the centuries remedyFor the faint at heart, a new startHe lives in a house, a very big house in the countryHe's got a fog in his chest so he needs a lot of rest in the countryHe doesn't drink smoke laugh, takes herbal baths in the countrySays she's come to no harm on an animal farm in the countryIn the country, in the countryBlow, blow me out I am so sad, I don't know whyBlow, blow me out I am so sad, I don't know whyE aqui ressurge a idéia, já há muito fomentada por mim: a da fuga. Ja falei sobre isso, basta pesquisar nos arquivos, pois é um pensamento sempre vivo em mim. Contudo, é igualmente forte o desconhecimento do destino almejado. Eu não aguento mais essa vidinha de merda, dá vontade de sair correndo (literalmente, correr, suar, até a garganta começar a arranhar e eu cair ofegante no chão) e ir para outro lugar (vida). Mas o problema é exatamente esse. Para onde? Não faço a mínima idéia. Exatamente por isso, apesar de pensar sempre em iniciar a jornada, eu não dou o primeiro passo, já que ficaria correndo sem rumo, até me extinguir numa faísca final.
Essa música me deu exatamente essa sensação e, contrariamente ao que ocorre comigo, o personagem acha uma saída, uma saída para sua vida rotineira e chata, ele vai para o campo, para uma casa de campo, onde lê Balzac, toma Prozac e vê uma vida maravilhosa.
E ao ouvir a música, realmente dá vontade de acompanhá-lo, principalmente no final dela, quando os metais invadem a canção e imagino-me acompanhando a banda até o local. O clip da música é sensacional e representa bem a idéia contida na letra. Quem sabe um dia eu também descubro meu destino.