M A L D I T O ! ! !
sexta-feira, dezembro 10, 2004
 
Subiu as escadas do colégio, passou pela porta. Tirando as luvas esfregou as mãos freneticamente, enquanto olhava ao redor, procurando sinais do fiscal de turmas. Pé-ante-pé entrou no banheiro e se trancou num dos reservados. Tirou da mochila o último cigarro do maço, acedeu-o e deu uma tragada forte. Sentou-se na privada e começou a brincar com a fumaça, a fazer círculos, roscas, grandes nuvens, que ficavam ali, sobre ele, tal como aquelas nuvens branquíssimas sobre a tela azul do céu de verão, verão este tão distante, seja pelo calendário, seja em seus sonhos, o verão de seus sonhos nunca acontecera. No último, por exemplo, teve que ficar de olho na mãe, arrasada com a morte da filha, sua meia-irmã, que tinha seis anos e morrera envenenada. Veneno para ratos, que a mãe havia espalhado por toda a casa, no inverno, quando todos os seres mais sombrios da natureza iam se proteger do frio na casa deles. Ele até achava engraçado aqueles barulhinhos que faziam à noite, quando andavam pelo forro do teto.

Mas a irmã não achou tão engraçado, com certeza. Ela confundiu as pequenas bolinhas que estavam debaixo da geladeira com os doces que havia ganhado da mãe no dia anterior. Quando ele chegou em casa e viu os policiais e paramédicos , achou que o problema era com a mãe, que andava deprimida com a partida de seu padastro, pai de sua meia-irmã. Mas logou percebeu que o problema era com Natalie, já que sua mãe estava sentada na varanda, amparada por uma policial.

Nesse momento a nuvem de fumaça, tal como suas recordações, se dissipou. O cigarro acabara. Olhou o relógio e ainda faltavam vinte minutos para a aula de química acabar. Aqueles pensamentos mórbidos realmente não lhe fizeram bem, tanto que saiu do cubículo e parou na frente do grande espelho que cobria a parede. Refletido, mais uma vez se deparou com a realidade. Pensou em chorar, quando os olhos começaram a coçar. Não, ele não podia. Já bastavam as lágrimas de sua mãe. O pai morrera, o padrasto fora embora (não que ele ligasse muito para isso) e ele se tornara o homem da casa, responsável pela sua alcoolizada mãe.

Deu um soco no espelho, e outro, mais outro. Sua mão já estava dolorida quando aquele fdp entrou no banheiro.
 
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domingo, dezembro 05, 2004
 
Annalykova foi despertada pelo cheiro de panquecas que tomou o ambiente. De um salto postou-se de pé e foi correndo até o banheiro. Olhou sua alva pele emoldurada por seus loiros cabelos e sorriu. Escovou os dentes e desceu até a cozinha. Abraçou a mãe, beijou o pai, sentou-se à mesa, desarrumou o cabelo do irmão. Estava com apetite naquela manhã e a mãe lhe arregalou os olhos quando apanhou três panquecas da tijela e as cobriu de mel.

Era um grande dia na escola e ela queria chegar cedo. Era o primeiro ensaio para o baile do final de ano, o seu primeiro baile, mal podia esperar. Engolia o nervosismo, deixando-o bem no fundo do estômago e ficava escutando seu coração bater mais forte.

Devaneios a parte, agasalhou-se bem, afinal, nevara a madrugada inteira. Antes de partir, um abraço afetuoso dos pais, a mãe cobriu seu pescoço com um cachecol vermelho e ela foi para o ponto. Embarcou no ônibus escolar e acenou para seus pais abraçados na porta de casa.

Sua amiga Myskina começou a lhe contar como havia sido o final de semana com o namorado, os pais dele haviam viajado e os dois ficaram sozinhos algumas horas. Ela mal pode acreditar no que tinham feito. No final das contas, nenhuma das duas não podia acreditar no que havia acontecido.

Para não contrariar a amiga, assentiu com um sorriso. Virou o rosto para as casas e viu o branco para todos os lados e um menino estatelado no gelo.


 
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