Eu não quero mais ver seu rosto ao abrir a porta. Quando eu passar por aquela porta, você terá ficado do lado de fora.

O passado é uma adaga, lançada pelo atirador de facas, que corta o ar em sua direção. Seja rápido, se esquive, deixe ela passar. Uma faca de cozinha fica no armário, bem guardada. Use-a, mas somente quando necessário. Não faça do convívio com esse ser cortante a razão da sua vida.  ¶ 1/17/2004 11:32:00 PM

  Diga-me, que você é minha....

Diga-me, que a humanidade te persegue....

Diga-me que, apesar de tudo, apesar de todos esses bastardos que insistem em puxar as barras de sua calça, que você não liga para eles.

Diga-me que o vestido negro que vestiu aquela noite foi para me seduzir e não apenas para se sentir mais bela naquela maravilhosa noite clara, em que as estrelas brilhavam e eu tocava, tímido, sua mão, com a intenção íntima, de roubar seu coração.

Diga-me, que nada mais importa nessa vida. Nada além do olhar que dirijo a você quando está a chorar....  ¶ 1/17/2004 06:24:00 PM

  Vou me arrepender pelo resto dos meus dias por dizer isso.... (tudo bem, exagerei... vou me arrepender pelo resto da semana por dizer isso, mas... ).

Vou dizer.

Eu fui em um puteiro, na praça tiradentes.

As putas, caídas, pelancudas, me olhavam com seu olhar programado de prazer. Creio que elas ensaiaram horas e horas para construir aquele olhar, mas quem disse que eu me importava com aquilo?

Só queria descansar meu rosto entre os imensos peitos que me contemplavam...

Enquanto a mão dela deslizava por minhas pernas...

Enquanto eu gozava em sua barriga....
Enquanto eu bebia vodka...

E lambia a virilha mal lavada, o cheiro de mofo a tomar todo o lugar....

E quando ela gritou e fez estremecer os candelabros....

Me levantei da cama e fique a admirar as estrelas....  ¶ 1/17/2004 06:15:00 PM

  O coração desabitado caminha pelas alamedas da aurora, esperando ser inundado pela luz solar.
O mar, ao seu lado direito, desafia as areias alvíssimas, totalmente desertas.
Ao longe, montanhas semi-encobertas pelas nuvens, despontam.

Olho sem saber para onde olhar.
A encobrir meu rosto, todo o sal do mar.

Descalço os sapatos, retiro as calças, camisa, meias, cueca.

Meus pés afundam na areia no momento em que o sol laranja desepede-se da montanha, me tomando por inteiro.

Sinto toda a força de um novo dia, de uma nova era, a me tomar.

Os musculos de minhas pernas começam a vibrar. Reteso o corpo e me preparo para o que está por vir.

Começa a corrida desenfreada, a areia sendo salpicada, as ondas na minha frente me confrontando: Venha seu tolo, me domine!

Um impulso, um momentâneo vôo.

Vejo de relance a praia lá em baixo, o azul do céu refletido no oceano. Não há mais nuvens, não há mais dor, não há mais tristeza. Só eu e o sol.

Solto o meu corpo e despenco.

O vento me rasga durante a queda, até eu sentir um frio profundo, até eu mais nada sentir ...  ¶ 1/17/2004 02:18:00 PM