M A L D I T O ! ! !
quinta-feira, dezembro 18, 2003
 
NATAL: O fim no começo.


Quando o maior prazer de uma pessoa se restringe a ficar esbarrando em outras por uma galeria, admirar fossilizado um pedaço de tecido em uma vitrine resplandecente ou esperar ansioso por um possível presente no final do ano, é porque a sociedade não está nada bem.

É isso mesmo que vocês estão pensando, falo dessa data maldita e de tudo que a cerca, e que se repete inexoravelmente ano após ano: o NATAL!

Não é novidade que há tempos o 25 de dezembro deixou de ser um dia afeto à confraternização e ao amor para se tornar o maior dos símbolos da moderna sociedade capitalista. É a época do ano em que os empresários e as crianças esfregam as mãos e exclamam em uníssono: É HORA DE FATURAR!

Será que foi sempre assim? Não tenho recordações muito boas e confesso que quando criança o que eu queria mesmo é presente, mas onde está toda a religiosidade que, por natureza, é inerente à essa data?

Eu não sou católico ou religioso, muito pelo contrário, mas toda a razão de ser do Natal se perdeu há muito tempo. Ou melhor, a verdadeira razão se perdeu, pois outra já foi criada para substituí-la: o lucro. Por um lado, não deixa de ser bom, movimenta a economia, cria empregos, mas não pode ficar reduzida a isso.

Deveria ser um tempo de amor, de carinho, mas o que mais se vê é morte e destruição por todos os lados. Enquanto as pessoas estão em suas luxuosas casas brindando com champagne e comendo tenros perus, milhões de esfomeados matam calangos para comer no Sertão e outra infinidade de pessoas se extinguem nas periferias das grandes cidades.

Bem, é certo que algumas pessoas se manifestam no sentido de ajudar, doando alimentos, roupas e afins. Mas eu pergunto: Por que só no Natal? Acham realmente que dez quilos de alimento não perecível irão mudar a situação de uma família pobre, cujo patriarca não tem e nunca terá um emprego decente?

Elas fazem isso apenas para se sentirem bem consigo mesmas, por desencargo de consciência! “Ah, vou doar um quilo de arroz e depois vou ao Shopping comprar aquele vestido M-A-R-A-V-I-L-H-O-S-O e todas minhas amigas morrerão de inveja na ceia...”.

Ou fazem isso por medo: “Vou alimentar esses f-d-ps para ver se eles param de me assaltar!”

Espírito de Natal... tá bom, acredito.

Tudo está lá, todos os anos: as caixinhas de Natal; as reportagens na televisão sobre as compras de última hora; receitas para as ceias; abraços e sorrisos falsos; votos de felicidades que não passam de boas condutas sociais; lembranças, que nada têm de lembrança, pois dá-se o presente, mas não o sentimento; as árvores de Natal importadas dos países do hemisfério norte; orações vazias.

O que sobra é exatamente isso: o vazio nos corações, sem sentimentos.

Infeliz Natal para vocês.
 
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Curiosidade

Dizem que a curiosidade é mãe das descobertas mais inovadoras, em todos os campos, mas principalmente na ciência. De tempos em tempos surge um curioso que faz a humanidade dar saltos na qualidade intelectual.

Em todos as áreas surge alguém que abomina as regras vigentes, o jeito de as pessoas fazerem a mesma coisa sempre do mesmo jeito, e inova, cria, transforma.


No meu caso, a curiosidade seria uma faca de dois gumes.

Ela me guia até o conhecimento: minha sede de saber é insaciável!

De outro lado, ela me perturba, faz meu cérebro coçar, meu coração palpitar, e fico me remoendo todo por não saber (e também por não ter meios próprios de saber) um determinado assunto.


***


Tudo isso é só para fazer um pedido: por favor, eu sou um menininho por demais curioso, não deixem mensagens anônimas nesse espaço. Por exemplo, quem é "Dri"??????

Desde já agradeço a atenção de vocês. Uma parte de mim fica feliz em saber que tem gente que aprecia a leitura desses desvarios (a outra parte não tá nem aí para vocês, mas isso é uma outra história :-).

 
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quarta-feira, dezembro 17, 2003
 
Esse post é especial para minha amiguinha mais linda de Curitiba :-***
Ambos gostamos do Jabor... e essa cronica dele tem tudo a ver com o sentimento que me permeia no final do ano... Mas para frente escreverei sobre isso...




"A felicidade é a empada do Bigode" - Arnaldo Jabor (O Globo - 16_12_03)

No fim de ano todo mundo começa a falar: “Feliz Natal, feliz ano novo!”. Mas, ser feliz, como? O sujeito passou o ano todo quebrando a cara, reclamando da mulher, batendo nos filhos, lutando contra o desemprego, sendo humilhado pelos patrões, e aí chega o fim do ano e todo mundo diz: “Seja feliz!”. E aí o sujeito tem de estampar um sorriso alvar no rosto, uma baba simpática, um olhar vazado de luz bondosa, faz uma arvorezinha de Natal com bolotas coloridas, mata um peru magro e pensa: “Sou feliz! O ano que vem, vai melhorar!”.

Felicidade muda com a época. Antigamente, a felicidade era uma missão, a conquista de algo maior que nos coroasse de louros, a felicidade demandava o “sacrifício”, a luta por cima de obstáculos. Felicidade se construía — por sabedoria ou esforço criávamos condições de paz e alegria em nossas vidas.

Hoje, felicidade é ser desejado. Felicidade é ser consumido, é entrar num circuito comercial de sorrisos e festas e virar um objeto de consumo. Hoje, confundimos nosso destino com o destino das coisas... Uma salsicha é feliz? Os peitos de silicone são felizes?

A felicidade não é mais interna, contemplativa, não é a calma vivência do instante, ou a visão da beleza. A felicidade é ter um “bom funcionamento”. Marshall McLuhan falou que os meios de comunicação são extensões de nossos braços, olhos e ouvidos. Hoje, inverteram-se. Nós é que somos extensões das coisas. Fulano é a extensão de um banco, sicrano comporta-se como um celular, beltrana rebola feito um liquidificador. Assim como a mulher deseja ser um objeto de consumo, como um eletrodoméstico, um “avião”, uma máquina peituda, bunduda. Claro que mulheres lindas nos despertam fantasias sacanas mas, em seguida, pensamos: “E depois? Vou ter de conversar... e aí?”. Como conversar com um “avião” maravilhoso, mas idiota? (Aliás, dizem que uma das vantagens do Viagra é que, esperando o efeito, os homens conversam com as mulheres sobre tudo, até topam “discutir a relação”).

Mas o homem também quer ser “coisa”, só que mais ativa, como uma metralhadora, uma Ferrari, um torpedo inteligente e, mais que tudo, um grande pênis voador, pássaro superpotente, mas irresponsável, frívolo, que pousa e voa de novo, sem flacidez e sem angústias. Seu prazer é cumulativo, feito de apropriações indébitas, dando-lhe o glamour de uma eterna juventude que afasta a idéia de morte ou velhice.

E eu não falo isso como crítica. Não. Eu tenho inveja, a verde, viscosa e sinistra inveja dessa ausência de angústia, dessa ignorância gargalhante que adivinho sob os seios de mulheres gostosérrimas ou nos peitos raspados de garotões lindos. Quero ser feliz, mas carrego comigo lentidões, traumas, conflitos. Sinto-me aquém dos felizes de hoje. Posso ter uma crise de depressão em meio a uma orgia, não tenho o dom da gargalhada frouxa, posso broxar no auge de uma bacanal. Fui educado por jesuítas e pai severo, para quem o riso era quase um pecado. O narcisismo de butique de hoje reprime dúvidas e tristezas óbvias. Eles têm medo do medo e praticam uma espécie de fobia eufórica, uma síndrome de pânico ao avesso: gargalhadas de pavor. E ainda atribuem uma estranha “profundidade” a esta superficialidade, porque, hoje, esse diletantismo tem o charme raso de ser uma sabedoria elegante e “pós-tudo”.

Mas falo, falo e não digo o essencial. Hoje, a felicidade é entrar num pavilhão de privilegiados. Eu queria não pensar, queria ser um imbecil completo sem angústias — meus inimigos dirão: “Você tem tudo pra isso. Sou uma esponja que se deixa tocar por tudo, desde a crise da dívida pública até o muro da Cisjordânia. Lembro a personagem de Eça de Queiroz que dizia: “Como posso ser feliz se a Polônia sofre?”

Hoje, a felicidade está na relação direta com a capacidade de não ver, de negar, de “forcluir”, como dizem os lacanianos. Felicidade é uma lista de negativas. Não ter câncer, não ler jornal, não olhar os meninos miseráveis no sinal, não ver cadáveres na TV, não ter coração. O mundo esta tão sujo e terrível que a felicidade é se transformar num clone de si mesmo, num andróide sem sentimentos, sem esperança, sem futuro, só vivendo um presente longo, como uma rave sem fim. Pedem-me previsões para o ano que vem. Tudo pode acontecer. Quem imaginaria o 11 de Setembro?

Osama nos legou o fatalismo dos árabes. Daqui para frente, teremos de aprender com eles a dizer: “Maktub!” — tudo estava escrito, nada nos surpreenderá mais. Só nos restam a orientalização, a religião evangélica louca ou a “objetificação” do consumo. Ou, então, viver a felicidade das pequenas coisas. Outro dia, eu estava comendo uma empada de palmito na porta da Globo (na Kombi do Bigode, que faz as melhores empadas do mundo) quando, sem quê nem para quê, fui invadido por uma infinita ventura, uma felicidade que nunca tive. Durou uns minutos. Não sei a razão; acho que foi um protesto do corpo, um cansaço da depressão. Mas, logo depois, passou e voltei ao duro show da vida.

Hoje felicidade é o brilho de um solitário que suga o prazer, sem conflitos, sem afetos profundos, mas sempre com um sorriso simpático e congelado, porque é mais “comercial” ser alegre do que o velho herói dos anos 60, que carregava a dor do mundo. O herói feliz acha que não precisa de ninguém, que todos devem se aprisionar em seu charme, mas ele, a ninguém. Para o herói criado pela mídia, o mundo é um grande pudim a ser comido. Feliz Natal e feliz ano novo.
 
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"Os empregadores procuram pessoas versáteis, que saibam se comunicar, que consigam trabalhar em equipe e que tenham habilidade para liderar. Nos departamentos de recursos humanos, usa-se um jargão para definir esse profissional. Ele deve ter "atitude proativa".


ATITUDE PROATIVA?! Quer saber de uma coisa, FODAM-SE miseráveis capitalistas de merda. Não quero e não preciso de vocês. Não vou moldar minha personalidade e vida nas regrinhas fabricados por executivozinhos em escritórios refrigerados!

Comunicação? Trabalho em equipe? Liderança???? Enfiem esses troços no rabo!
 
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