"Tudo é permissível... até que você peça permissão"
“´ Por que não te escrevo?` , perguntas-me, logo tu que és tão sábio? Deverias adivinhar que me sinto bem, e até que... Curto e grosso, conheci alguém que tocou meu coração bem de perto. É ... Não sei se...
Contar-te , respeitando a ordem dos acontecimentos, como cheguei a conhecer uma das criaturas mais adoráveis deste mundo, seria muito difícil. Estou feliz e satisfeito, logo, incapaz de ser um bom historiador.
Um anjo! Arre! Mas isso qualquer um diz da sua, não é verdade? De qualquer forma, não sou capaz de dizer o quanto ela é perfeita, nem de onde vem sua perfeição. Basta dizer que ela dominou completamente o meu ser.
Tanta candura com tanto espírito, tanta bondade com tanta firmeza! E paz de alma em meio a tanta vida real e tanta atividade!
Tudo o que aqui digo a respeito dela não passa de palavreado inútil, vaga abstração, que não expressa sequer um só dos traços de seu semblante. Em outra ocasião, talvez... Não, nada de outra ocasião,vou contar-te tudo agora mesmo. Se não o fizer agora, nunca mais será feito. Pois, cá entre nós, desde que comecei a escrever esta carta, por três vezes estive a ponto de deitar a pena e mandar arrear o cavalo para sair. Isso que jurei para mim mesmo hoje cedo, não cavalgar até lá, mas a cada pouco me aproximo da janela a ver se o sol ainda vai alto...”.
(Os Sofrimentos do Jovem Werther - Johann Wolfgang Goethe - 1774)