- Bem, esta é uma das minhas poucas diversões. - disse o filho para a mãe no momento em que ela o surpreendeu no banheiro.

- Mas como, meu filho, se você tem amigos, namorada, futebol aos domingos, cinema aos sábados, como pode afirmar que esta é a sua única diversão? - o rosto da mãe naquele momento estava mais pálido do que os cabelos do Cid Moreira.

- Mãezinha... creio que não sabe da verdade... Meus amigos, na verdade, há muito deixaram de sê-lo... Minha namorada, há tempos terminou comigo... cinema, nem tenho ido, essas estréias estão de amargar... e futebol aos domingos, bem sabes como está a situação do time do meu coração... Talvez agora você acredite que esta é a minha única diversão...

- Não pode ser, meu filho... não te criei para isso, sempre quis que fosse um doutor, queria te ver de beca, pendurar seu diploma reluzente na parede, andar de terno e gravata por aí... e agora te encontro aqui fazendo essa pouca vergonha!

- Eu posso explicar, mãezinha. Tenha andado só, sem caminho, sem direção. As pessoas viram as costas para mim, outras tantas tentam me difamar e eu não sei porque. Aqueles filmes conspiratórios americanos me vêm à cabeça instantâneamente. E eu queria fugir, deixar isso tudo de lado, esses pensamentos inglórios, essa dor, esse vazio. Por isso me refugiei nesse cubículo escuro, onde acreditei encontraria paz, sossego para me divertir nesse pouco que sobrou de mim...

- Ah, meu filho, me da um abraço, vem... - os dois se encontraram, a cabeça da mãe encontrou o peito arfante do filho, e os fios loiros que pendiam atingiram a narina materna, fazendo a genitora espirrar.

- Atchim! Tudo bem meu filho, mas agora vê se devolve a peruca da sua falecida avó!
  ¶ 11/19/2004 11:06:00 AM