DA SÉRIE: JUROS, PRA QUE TE QUERO?Retomando a nefasta discussão sobre os juros, o desenvolvimento do país e o seqüestro da nação pelos especuladores internacionais, destaco hoje um artigo do Clovis Rossi publicado na Folha de S. Paulo de domingo passado (01/05/05).Veja-se que as palavras de Rossi vão ao encontro do que foi dito pelo Verissimo, como relatei alguns posts atrás. Realmente, não podemos pagar por um "pecado" para o resto de nossas vidas (e das de nossos filhos, netos, bisnetos...).
CLÓVIS ROSSI
A teologia dos juros
SÃO PAULO - Jeffrey Sachs, um dos mais badalados economistas do planeta, reproduziu em Brasília a teologia dos juros. Seriam altos por causa do passado (imagino que seja o passado de caloteiro do país).Parece a história de Adão e Eva, aplicada à economia. Porque comeram a maçã ficamos todos os seus descendentes portadores do pecado original.É claro que o passado pesa. Mas está longe de haver uma relação perfeita de causa e efeito.Afinal, a Rússia deu um calote bem mais recente que o mais recente do Brasil e acaba de ser elevada à categoria de "investment grade". A Argentina também deu calote, o mais estrepitoso deles, e seus juros são hoje bastante baixos.A Espanha deu mais calotes que o Brasil e a Argentina e nem por isso paga hoje por eles.Dirão os profetas da obviedade que são circunstâncias diferentes. São mesmo. A Espanha, por exemplo, está blindada (para o bem ou para o mal) por ser sócia de um clube de gente fina (a União Européia). Mas, se as circunstâncias presentes (e futuras) são determinantes, então o passado é menos importante do que quer fazer crer a teologia dos juros, certo?O que conta é lucro, em primeiríssimo lugar, e segurança, que está dada pelas condições presentes e pelo futuro imediato, mais do que pelo passado remoto ou próximo.Para o governo Lula, no entanto, vale a teologia, de que dá prova a economia feita no primeiro trimestre, na obscena altura de 6,1% do PIB. É muitíssimo mais do que os 4,25%, tidos pelo próprio governo como a cota indispensável para purgar o pecado original, do país e do PT.Azar do país se o governo acredita na teologia dos juros. Mas não lhe faria mal ao menos olhar para outro trecho da missa de Sachs: "Claramente é necessário mais espaço fiscal para algumas das coisas que o Brasil precisa fazer".
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