M A L D I T O ! ! !
sexta-feira, setembro 02, 2005
 
Uma pausa na paranóia, tristeza, bebedeira e orgias para os aconselhamentos culturais de costume.

Tomem nota por favor.

- Conselho cinematográfico:

"Casa Vazia" (Coréia do Sul/2004 - Direção, Roteiro e Produção: Kim Ki-Duk - Duração: 95 minutos - Site Oficial: http://www.sonyclassics.com/3iron/)



Um rapaz invade casas para passar ali algum tempo e como retribuição faz pequenos serviços domésticos, como consertar aparelhos eletrônicos ou lavar roupa.

De imediato eu me lembrei de "Edukators", filme alemão que passou no Br nesse ano, onde pessoas também invadiam casas, mas com o objetivo de "educar" seus moradores, afirmando que a vida era muito mais que bens valiosos e dinheiro.

Mas "Casa Vazia", ao menos de imediato, não tem esse sentido educativo. Bem, depende do que você entenda por "educação". O pratagonista parece sem rumo e sem sentido ou parece que o único sentido de sua vida é fazer o que faz: invadir casas. Não há muitas explicações no filme para isso, mas há milhões de concepções que podem ser pensadas desse fato. A busca de algo novo, apenas. Diversão? Eu não cheguei a qualquer conclusão, mas as vezes penso que ele apenas quer conhecer a vida dos moradores anônimos, sem, contudo, conhecê-los pessoalmente. Ele busca em seus lares a vida que não tem, talvez. Organiza a casa, registra o momento com sua câmera fotográfica digital e vai embora.

Até o dia em que ele acha outra alma perdida, a de uma bela mulher, presa a um casamento indesejável. Então o que era praticamente impossível acontece: um ser transtornado como ele o acompanha em suas peripécias. E ao invés de assistirmos a apenas um medíocre filme água-com-açúcar, vemos toda a beleza e pureza do silêncio nos tomar.

E o final, pode não ser o final. Ou pode ser realmente o final. Não há como adiantá-lo aqui, sob pena de se perder toda a surpresa e brilho. Mas algo que me parece certo é que nós, seres humanos, não deixamos de ser casas vazias ambulantes, ansiando por preenchimento.
 
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quarta-feira, agosto 31, 2005
 
Ele vê uma caixa cerrada em sua frente. Não é nem grande nem pequena e está embrulhada em papel pardo e fita crepe.
Ele anda em volta dela, examinando com curiosidade. Percebe que há algo escrito na lateral. Se ajoelha e a levanta. É leve.
Ele lê, escrito em caneta preta, seu nome. Seu nome incompleto, mas só pode ser ele, ninguém além dele mora naquele local.

Ele se senta no chão, coloca a caixa em seu colo e, devagar, vai desembrulhando. Rasga o papel com cuidado, puxando as fitas uma a uma. É uma caixa ordinária, também parda. Levanta a tampa e vê um pequeno objeto, do tamanho de um punho cerrado, embrulhado em papel-manteiga. Ao lado dele um papel azul, dobrado em três.

Ele desdobra o papel com cuidado e vê uma mensagem escrita, em caneta cor preta: "Agora, meu amor, você me terá sempre junto ao peito. Saudades eternas."

Deixando o papel de lado, ele sente a viscosidade do objeto na palma de sua mão esquerda. Com a direita, delicadamente começa a retirar o papel-manteiga, uma, duas, três voltas de papel-manteiga. As manchas vermelhas começam a surgir na medida em que o papel vai se abrindo. Uma linha vinho escorre pelo seu braço esquerdo. A última volta do papel é retirada.

Diante de si, rubro e negro, o coração de sua amada.

Com cuidado, ele se levanta, caminha até a direção do cirurgião, e entrega o músculo quase morto. Começa a desabotuar a camisa, dizendo que o tempo é curto. Que o tempo é curto para se amar.


(30/08/05 - 14:30)
 
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terça-feira, agosto 30, 2005
 
Eu preciso falar com alguém, olhe para mim, você não está me ouvindo?

Tudo bem, eu sei que não, mas vai ter que ser você mesmo, afinal, não há mais ninguém.

Sério, olhe ao seu redor, o que você vê? Não sabe? Eu decifro para você: planícies geladas, imensas dunas, planaltos pedregosos, lagos de sal ou terra batida, o cenário não importa, tudo é deserto.

Agora você vê? E compreende? Tudo bem, estou pedindo demais, não precisa compreender, mas se você já consegue ver, para mim é suficiente.

E não, não vou na casa dela hoje, as vacas precisam ser ordenhadas, se não as tetas incham e elas ficam doentes. Não sabia disso? As vacas precisam de cuidados diários, nos mesmos horários, uma ordenha pela manhã e a outra ao entardecer. O bezerro não da conta do recado.

Eu não dou conta do recado. Você está vendo, vou enlouquecer aqui. E mesmo que não fosse aqui, exatamente (o X indicará o lugar?), eu estaria prestes a elouquecer, pois simplesmente ainda não encontrei meu lugar.

Sim, se falássemos de uma pessoa, eu até poderia afirmar isso (ao menos por enquanto), mas estou me referindo realmente a um lugar específico, físico, casa, barraco, terra, água.

O calor hoje ta infernal, pra dizer a verdade, os últimos dias tem sido infernais, e eu não sei porque. Não é só a temperatura lá fora que recrudesce, sou eu mesmo que não sei mais o que fazer. Tal qual rodovias, a pista se estreita, surgem milhões de buracos e eu não vejo mais sentido em desviar deles. A bem da verdade, anseio que eles me tragam, assim não terei mais que fazer escolhas inúteis. Não há mais cruzamentos, curvas, paisagens, é tudo igual, um reta infinta à frente e mesmo assim instransponível. Eu quero parar, por favor.

Pare no acostamento, desça do veículo, ponha as mãos no capô. Sorria. Você não chegou, essa é a sua recompensa.
 
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